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A Criação Aguarda com Esperança

Lectio Divina

Versículo Chave: Romanos 8,19


LECTIO DIVINA - ROMANOS CAP 8 VER 19Caminho de Fé

1. Introdução

A Epístola aos Romanos é uma das mais profundas exposições teológicas do Novo Testamento, redigida por São Paulo. No capítulo 8, o Apóstolo medita sobre os sofrimentos do tempo presente em contraste com a glória futura prometida aos filhos de Deus. O versículo 19 nos convida a olhar para a criação não apenas como cenário, mas como protagonista de uma esperança viva. Essa criação, sujeita à vaidade por causa do pecado, anseia pela manifestação dos que são redimidos em Cristo. Este versículo é central para compreendermos nosso papel na restauração do mundo, iluminado pela graça.

Ilustração de Jesus glorificado entre animais e seres humanos, representando a criação aguardando a revelação dos filhos de Deus em Romanos 8,19.

2. Texto do versículo

“Pois a criação aguarda ansiosamente a revelação dos filhos de Deus.” (Romanos 8,19)

3. Lectio: Leitura atenta

Este versículo deve ser lido com atenção e reverência, pois revela um profundo mistério: a criação, em sua totalidade, aguarda com esperança. A palavra “aguarda” expressa mais do que uma simples espera: é um anseio ativo, cheio de desejo e expectativa. A expressão “revelação dos filhos de Deus” indica uma manifestação gloriosa — a epifania dos que, pela graça, foram feitos filhos no Filho. Ao lermos lentamente, devemos destacar os termos “criação” e “filhos de Deus”, pois ambos estão intimamente ligados: a criação sofre por causa do pecado humano, mas também espera sua gloriosa redenção junto com os filhos adotivos do Pai. Esta passagem nos conduz a contemplar a dimensão universal da salvação, em que toda a realidade visível participa do plano de Deus para a restauração de todas as coisas em Cristo.


4. Meditatio: Meditação sobre o versículo

São Paulo nos apresenta aqui uma visão grandiosa e ao mesmo tempo profundamente espiritual da criação. Ele nos diz que toda a natureza, toda a criação — desde os céus e os mares até as plantas e os animais — participa, de algum modo misterioso, do drama da salvação. Não é apenas o homem que aguarda a redenção, mas toda a ordem criada, ferida pelo pecado original, geme com dores de parto (cf. Rm 8,22).

A expressão “aguarda ansiosamente a revelação dos filhos de Deus” nos faz compreender que a criação reconhece, ainda que de maneira não racional, que algo glorioso está por vir. E esse algo é a manifestação plena daqueles que foram adotados por Deus por meio de Cristo. Isso nos remete ao estado original do mundo, no Gênesis, quando tudo era “muito bom” (Gn 1,31), e o homem vivia em harmonia com a criação, sendo seu guardião e sacerdote.

Com o pecado, essa harmonia foi rompida. A terra foi amaldiçoada por causa da desobediência de Adão (cf. Gn 3,17). Desde então, a criação está sujeita à corrupção, ao sofrimento, à morte. Mas o plano de Deus, desde a eternidade, não se restringe à salvação das almas humanas: Ele quer restaurar todas as coisas em Cristo (cf. Ef 1,10). Essa restauração inclui a criação, que será liberta da escravidão da corrupção e transformada numa nova terra e novos céus (cf. Ap 21,1).

Neste contexto, a revelação dos filhos de Deus não se refere apenas ao tempo presente, quando os cristãos vivem segundo o Espírito. Refere-se, sobretudo, ao momento escatológico, à vinda gloriosa de Cristo, quando os justos ressuscitarão com corpos glorificados e toda a criação será renovada. Santo Irineu de Lyon ensinava que “a criação também será herdeira da glória dos filhos de Deus” (Adversus haereses, V, 32,1), pois foi criada por Deus e aguarda sua transfiguração.

São Tomás de Aquino, comentando este trecho, afirma que “toda criatura, como que suspensa, espera a glória futura que aparecerá nos filhos de Deus”. Ele destaca que essa criação foi feita para o homem e, portanto, sofre por causa do pecado humano, mas espera ser renovada com ele.

A aplicação prática desse versículo é profunda. Em primeiro lugar, somos chamados a viver como verdadeiros filhos de Deus, cooperando com a graça, sendo luz do mundo e fermento na massa. Nossa vida deve irradiar esperança, pois o mundo aguarda nossa revelação. Em segundo lugar, somos convidados a cuidar da criação, não por ideologias modernas, mas porque ela participa da esperança escatológica. Cada gesto de cuidado com a natureza, cada atitude de gratidão pelo mundo criado, é um sinal de comunhão com o plano divino.

Além disso, este versículo nos convida a olhar o sofrimento de modo redentor. As dores que vemos na criação, como os desastres naturais, as doenças, a corrupção das coisas, são também clamores, gemidos que aguardam redenção. A natureza nos ensina a esperar em Deus com perseverança e confiança.

A esperança é, pois, a virtude teologal que perpassa todo o texto. A criação ensina o homem a esperar. E o homem, ao contemplar a criação, é conduzido à esperança na glória futura. Como dizia São João da Cruz, “a esperança faz a alma alçar-se a Deus e esperar d’Ele o que ainda não possui”.

A revelação dos filhos de Deus é, portanto, o ápice da economia da salvação, quando seremos plenamente conformados a Cristo. E isso não será apenas um prêmio individual, mas um acontecimento cósmico, que atingirá até mesmo os elementos da natureza. A criação aguarda essa manifestação como quem espera um novo amanhecer, um novo Éden onde a justiça habita.

Que possamos viver essa esperança, caminhando na luz da graça, certos de que a nossa fidelidade a Deus tem ressonâncias eternas, não apenas para nós, mas para todo o universo criado.


5. Oratio: Orando com o versículo

Senhor Deus, Criador de todas as coisas visíveis e invisíveis, nós te louvamos pela beleza da tua criação, que manifesta tua sabedoria e teu poder. Hoje, ao meditar tua Palavra, reconhecemos que toda a criação geme e sofre na esperança da nossa redenção. Dá-nos, ó Pai, a graça de vivermos como verdadeiros filhos teus, para que o mundo veja em nós os sinais do Reino que há de vir.

Renova nosso coração, purifica nossa mente e fortalece nossa fé. Que a esperança da glória futura nos sustente nas tribulações do tempo presente. Ensina-nos a cuidar do mundo com responsabilidade, sabendo que tudo foi criado por ti e para ti.

Senhor, que a revelação da tua glória em nossos corações seja fonte de luz para todos ao nosso redor. Que sejamos testemunhas da tua misericórdia e da tua promessa de renovação. Maranatha! Vem, Senhor Jesus!


6. Contemplatio: Contemplação silenciosa

Feche os olhos por alguns instantes. Respire profundamente. Imagine a criação inteira — o céu, os rios, as montanhas, os animais — em silêncio, aguardando a revelação dos filhos de Deus. Sinta o peso e a beleza dessa esperança. Deixe que o Espírito Santo fale ao seu coração, sem palavras. Permaneça em silêncio diante do Senhor e acolha essa expectativa da criação como um convite à santidade. Ouça interiormente a voz de Deus que te chama a ser luz no mundo, sinal da glória futura. Permaneça assim, em adoração silenciosa, por alguns minutos.


7. Pensamentos para reflexão pessoal

  • Vivo como um verdadeiro filho de Deus, cuja vida revela a glória futura?

  • Tenho esperança nas promessas divinas, mesmo em meio aos sofrimentos?

  • Como posso colaborar para que a criação reconheça em mim o reflexo do Criador?


8. Actio: Aplicação prática

Este versículo nos desafia a agir concretamente. Primeiro, cultivando em nosso coração uma esperança viva, alimentada pela Palavra de Deus e pelos sacramentos. Participar da Santa Missa com fervor, confessar-se com regularidade e rezar diariamente são caminhos para tornar visível a filiação divina em nós.

Segundo, somos chamados a cuidar da criação como expressão de nossa fé. Podemos rever nossos hábitos: evitar desperdícios, usar com moderação os recursos naturais, reciclar, plantar, zelar pelo ambiente em casa, na comunidade, na paróquia.

Por fim, tornar-se sinal da glória futura também significa amar com gestos concretos: visitar um doente, consolar um aflito, ajudar um necessitado. A criação aguarda nossa revelação — e ela começa nos pequenos atos vividos com amor. Que nossa vida seja uma profecia viva da nova criação que virá.


9. Mensagem final

A Lectio Divina de hoje nos mergulhou num dos mistérios mais belos da fé: a criação espera por nós. Isso é mais do que poesia, é uma verdade espiritual profunda. O mundo sofre, mas também espera. Espera por ti, por mim, por todos os que foram feitos filhos de Deus no Batismo. Que possamos viver à altura dessa vocação, com esperança, alegria e fidelidade. Não estamos sós. A criação inteira nos acompanha, como um coro silencioso que aguarda o triunfo da graça. Sejamos fiéis, pois nossa vida toca o cosmos. Cristo, o Primogênito de toda a criação, já nos precede na glória. Caminhemos com Ele.


10. Oração de encerramento

Senhor Deus, fonte da vida e da esperança, nós te agradecemos por tua Palavra viva e eficaz. Fortalece em nós a fé, para que vivamos como filhos da luz. Que a esperança da criação se cumpra em nossa fidelidade diária, e que sejamos instrumentos da tua glória. Concede-nos um coração novo, capaz de esperar e amar como Cristo amou. Santifica nossa vida e transforma nosso olhar, para que vejamos em tudo o reflexo do teu amor. A ti seja a honra e a glória, agora e por toda a eternidade. Amém.

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