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Saborear as Coisas do Alto

Lectio Divina

Versículo Chave: Colossensses 3, 2


LECTIO DIVINA - COLOSSENSSES CAP 3 VER 2Caminho de Fé

1. Introdução

Na carta aos Colossenses, São Paulo orienta cristãos recém-convertidos a viverem a nova vida recebida no Batismo. No capítulo três, ele os chama a uma reorientação radical do coração: fixar o pensamento nas realidades celestes, onde Cristo está glorificado. O versículo escolhido resume essa pedagogia espiritual, contrapondo “as coisas do alto” às “que estão sobre a terra”. Não se trata de desprezar a criação, mas de ordenar desejos, escolhas e prioridades segundo o Reino. A Igreja sempre leu esse imperativo como convite à santidade concreta: buscar Deus primeiro, para que todo o resto tome o seu devido lugar em nós.

Monge ora à luz celestial, com rosário, Bíblia aberta e crucifixo — Lectio Divina de Colossenses 3,2: pensai nas coisas do alto.

2. Texto do versículo

“Pensai nas coisas do alto, não nas que estão sobre a terra.” (Cl 3,2)

3. Lectio: Leitura atenta

Leia o versículo devagar, detendo-se em cada expressão. “Pensai”: não apenas um pensamento ocasional, mas um hábito interior, uma disposição contínua da mente e do coração. “Nas coisas do alto”: tudo o que pertence a Cristo ressuscitado — sua vontade, seus mandamentos, suas promessas, os bens eternos. “Não nas que estão sobre a terra”: não absolutize o que é passageiro, não permita que interesses temporais determinem seu rumo espiritual. Releia enfatizando os contrastes: alto/terra, pensar/absolutizar. Observe o contexto imediato (Cl 3,1-4): fomos ressuscitados com Cristo, nossa vida está escondida n’Ele, e seremos manifestados com Ele em glória. Faça pequenas pausas respiratórias, permitindo que a palavra “alto” eleve seu horizonte e que “não” purifique seus apegos. Conclua pedindo luz ao Espírito Santo para perceber, no hoje, quais pensamentos dominam você e como orientar cada desejo ao senhorio de Cristo. Repita lentamente até gravar no coração. Deixe o silêncio acolher a Palavra.


4. Meditatio: Meditação sobre o versículo

“Pensai nas coisas do alto” é ordem que nasce de um fato: fomos ressuscitados com Cristo e, portanto, já participamos, em esperança, da vida celeste. O imperativo não se apoia em voluntarismo, mas na graça recebida, que pede cooperação. O verbo grego φρονεῖτε indica mais que pensar: trata-se de um modo de julgar, de saborear, de preferir. A Nova Vulgata usa sapite, de onde deriva sabedoria e sabor. Paulo convida a formar o gosto da alma pelas realidades que permanecem; é a educação do desejo, para que a mente se harmonize com o amor de Deus e o queira acima de tudo.

Os “bens do alto” não são abstrações. São, antes, a própria pessoa de Cristo glorioso, sua vontade salvífica e os meios por Ele instituídos para nos unir a Si: a fé, a caridade, os sacramentos, as virtudes teologais e morais, a esperança da glória. Fixar neles o pensamento purifica afetos desordenados e restitui a hierarquia do amor. Santo Agostinho ensina que somos aquilo que amamos: se amamos o que passa, deslizamos com o tempo; se amamos o eterno, firmamo-nos n’Aquele que não muda. Pensar no alto é, pois, orientar todo o ser para Deus, nossa pátria e nosso fim.

Mas Paulo acrescenta a negação: “não nas que estão sobre a terra”. A advertência não condena a bondade criada, pois a terra é obra de Deus; combate, sim, o apego que faz dos bens temporais um fim último. Esse desvio gera idolatria, avareza, sensualidade e vanglória, como o próprio contexto de Colossenses enumera. O coração dividido perde o sabor das coisas de Deus. São João Crisóstomo observa que o pensamento terreno arrasta a alma para baixo, tornando-a pesada, enquanto o olhar fixo em Cristo a torna leve e pronta para a caridade. A direção interior molda toda a vida.

A expressão “as coisas do alto” requer discernimento concreto. Quais pensamentos, imagens, lembranças e decisões alimentamos? O cristão não vive fugindo do mundo, mas cultivando nele uma mente celeste. Isso significa buscar primeiro o Reino e sua justiça, ordenar o trabalho, os estudos, o descanso e as relações segundo a lei de Deus, rejeitando o pecado e tudo o que o favorece. Significa também acolher a cruz cotidiana com amor, porque o alto passa pela exaltação de Cristo no Calvário. Aquilo que parecemos perder por amor a Deus, na verdade, purifica o coração e alarga nossa capacidade de amar.

São Tomás de Aquino nota que pensar o alto tem como regra o fim último: a visão de Deus. Tudo deve ser ordenado a esse fim; o que ajuda, escolhe-se; o que impede, evita-se. Tal sabedoria nasce da caridade, que infunde no intelecto um novo sabor. Por isso, a Igreja, em sua disciplina espiritual, propõe práticas que educam a mente: leitura meditada da Escritura, exame de consciência, confissão frequente, participação no Santo Sacrifício da Missa, adoração eucarística, rezar o Rosário, obras de misericórdia. Não são adendos opcionais: são meios concretos pelos quais o Espírito nos eleva ao Cristo.

Outro aspecto é a memória. Pensar o alto não é forçar pensamentos positivos, mas recordar os benefícios do Senhor, meditando suas obras e promessas. A lembrança grata vence a ansiedade, relativiza perdas e fortalece a perseverança. O coração volta-se então do “eu” para Deus, e a mente aprende a repousar na providência. Ao mesmo tempo, há combate espiritual: sugestões, distrações, curiosidades inúteis e paixões levantam-se contra essa orientação. Por isso Paulo usa o imperativo contínuo: permanecei nessa disposição. Trata-se de vigilância amorosa, capaz de dizer “não” com firmeza e “sim” com prontidão, a cada hora, em cada decisão.

Não pensemos, contudo, que tudo dependa de nosso esforço. O primeiro a pensar em nós é Deus. Pela graça, Ele inclina nossa mente à verdade e move nossa vontade ao bem. Sem Ele, nada podemos; com Ele, tudo se torna possível. A contemplação do Cristo, sentado à direita do Pai, dá medida e critério aos pensamentos. Olhamos para cima não para escapar, mas para receber de lá a luz com que amamos aqui. Quando os desejos se ordenam, as mesmas realidades terrenas tornam-se caminho de santificação: família, trabalho, estudos, descanso e amizade convertem-se em locais de oferta, presença e serviço.

O contraste entre alto e terra também ilumina nossas escolhas morais. Onde colocamos o pensamento, ali o coração se fixa, e onde o coração se fixa, os passos seguem. Pensamentos de pureza alimentam pudor, castidade e respeito; pensamentos de inveja alimentam murmuração e divisão; pensamentos de fé alimentam coragem e perseverança. A mente não é neutra: ela prepara o terreno da liberdade. Por isso, exames diários ajudam a perceber a economia interior dos pensamentos, pedindo perdão pelos ruins, agradecendo pelos que vieram de Deus e propondo atos concretos que fortaleçam o bem. Assim crescemos na sabedoria dos santos.

Finalmente, pensemos no prêmio: “Quando Cristo, vossa vida, se manifestar, então também vós sereis manifestados com Ele em glória”. O alto não é um lugar neutro, mas o próprio Cristo, vida de nossa vida. Alimentar a mente com essa esperança muda a maneira de sofrer, trabalhar, amar e esperar. Ela reconcilia paciência e urgência: paciência, porque aceitamos o ritmo de Deus; urgência, porque não queremos perder tempo com o que não conduz ao céu. O Espírito Santo, vínculo entre nós e o Alto, grava em nós os pensamentos de Jesus e nos guia à maturidade de filhos.

Peçamos, então, a graça de cultivar um “gosto” novo, perseverante e realista: não uma fuga dos deveres, mas uma hierarquia tão ordenada que tudo, desde o pequeno gesto caseiro até a grande decisão profissional, se alinhe com a caridade. Assim, “pensar o alto” torna-se hábito: acordar oferecendo o dia, trabalhar com retidão, vigiar os sentidos, escolher amizades edificantes, recolher-se para rezar, confessar-se com frequência, comungar dignamente, servir os pobres, repousar sem culpa. O coração, pacificado, aprende a discernir com serenidade. E, pouco a pouco, o próprio Cristo pensa em nós e ama em nós, dando-nos sua paz. Então, desejos, pensamentos e obras respiram céu dentro da história. Aqui e agora.


5. Oratio: Orando com o versículo

Senhor Jesus, sentado à direita do Pai, eu Te adoro e proclamo que Tu és minha vida. Olha para meu coração dividido e cura-o com tua misericórdia. Dá-me o Espírito Santo, para que minha mente aprenda a saborear as coisas do alto e a rejeitar o que me afasta de Ti. Liberta-me dos apegos desordenados, das comparações, da pressa ansiosa, da curiosidade vã. Ensina-me a ordenar trabalho, descanso, afetos e projetos segundo tua vontade. Fortalece em mim a fé que vê o invisível, a esperança que persevera nas provações e a caridade que se oferece sem medida. Por tua cruz, purifica meus pensamentos; por tua Ressurreição, eleva meus desejos; por tua Eucaristia, sustenta meu caminho. Maria Santíssima, Mãe da Igreja, educa-me na obediência da fé e no silêncio contemplativo. São José, guarda do Redentor, ensina-me a firmeza humilde. Santos apóstolos, intercedei por mim. Concede-me vigilância serena, para recusar pensamentos inúteis, acolher inspirações discretas e, no concreto das tarefas, referir todas as coisas a Ti; que eu não busque aplausos, mas tua glória, não me perca em distrações, mas permaneça fiel; confirma-me na paz, para servir com generosidade hoje. Guia meus passos, ilumina-me sempre, sustenta-me na perseverança final, Senhor. Amém.


6. Contemplatio: Contemplação silenciosa

Entre no silêncio diante de Deus. Repita o versículo suavemente, como quem inspira e expira: “Pensai nas coisas do alto, não nas que estão sobre a terra”. Deixe que cada palavra desça ao coração. Contemple Cristo ressuscitado, sentado à direita do Pai, e permaneça ali, apenas presente. Quando surgir alguma lembrança inquieta, entregue-a a Jesus e retorne, simples e dócil, ao olhar fixo n’Ele. Não force nada: acolha. Permaneça alguns minutos, pedindo a graça de uma mente pacificada. Termine com um ato de fé amorosa: “Jesus, confio em Ti”, e um Glória ao Pai. Agora e sempre. Amém.


7. Pensamentos para reflexão pessoal

  • Quais pensamentos têm governado meu coração hoje: celestes ou terrenos?

  • O que preciso abandonar para pensar o alto com liberdade?

  • Quais meios concretos me ajudam a elevar a mente diariamente?


8. Actio: Aplicação prática

  • Estabeleça, por uma semana, um “minuto do alto” a cada hora acordada. Quando o alarme tocar, pare brevemente, erga o coração e repita: “Jesus, sede meu pensamento e meu amor”. Esse pequeno ato reeducará o foco interior.

  • Faça um exame de pensamentos cada noite. Anote três pensamentos que ajudaram sua amizade com Deus e três que atrapalharam. Agradeça pelos primeiros; renuncie aos segundos; proponha um concreto para amanhã (por exemplo, limitar o uso de telas, evitar curiosidades, guardar os olhos).

  • Escolha uma prática que eleve a mente: adoração eucarística semanal, quinze minutos diários de leitura do Evangelho, ou um terço rezado com atenção. Assuma com firmeza, sem voluntarismo, pedindo a graça. Integre também um serviço de caridade: visite alguém que sofre, ajude discretamente um necessitado, ou encoraje um desanimado. Assim, pensamento e ação se ajustam ao alto.

  • Ao iniciar qualquer tarefa, faça a oferta: “Por vós, Senhor”. Durante conversas, escolha palavras que edifiquem e evite julgamentos. Se cair, levante-se logo pela confissão e recomece. Revisite semanalmente este plano diante do Santíssimo, pedindo correções. A constância humilde, e não o entusiasmo passageiro, forma a mente celeste. Confie, persevere, e Deus fará frutificar seus pensamentos. Com paz verdadeira.


9. Mensagem final

Colossenses 3,2 é um compasso para o coração cristão. Ele oferece direção quando tantas vozes seduzem e dispersam. “Pensar o alto” não é luxo de poucos; é vocação de todos os batizados, porque fomos feitos para Deus. Quando acolhemos esse imperativo como caminho diário, o Evangelho penetra decisões, amizades, trabalho e repouso. A mente aprende a saborear o que permanece e a relativizar o que passa. Caímos? Recomeçamos com humildade, confiando na misericórdia. A luz vem do Cristo ressuscitado, presente na Eucaristia e que habita em nós pela graça. Com Maria e os santos, perseveramos, sabendo que o prêmio prometido supera toda fadiga. Hoje, escolha um ato simples que te eleve a Deus e sustente-o. Nele, cada passo comum torna-se semente de eternidade: um sorriso oferecido, um silêncio caridoso, um serviço oculto, uma oração breve. Pensa o alto, age na caridade, e a paz de Cristo guardará teu coração. Sempre.


10. Oração de encerramento

Deus Pai, fonte de toda luz, em teu Filho ressuscitado nos chamas às realidades do alto. Recebe esta Lectio como humilde oferta e faze descer sobre nós teu Espírito de sabedoria. Purifica nossos pensamentos, fortalece nossa vontade, ordena nossos afetos. Concede-nos amar o que ordenas e desejar o que prometes, para que, entre as coisas mutáveis, nossos corações permaneçam fixos onde se acham as verdadeiras alegrias. Por Cristo, nosso Senhor, que contigo vive e reina na unidade do Espírito Santo. Maria, Estrela da Manhã, guia-nos. São José, protege-nos. Santos de Deus, ajudai-nos. Permanece conosco Jesus, firma-nos na paz. Agora sempre. Amém.

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