Humildade que justifica, não vanglória que acusa
- escritorhoa
- 26 de out.
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Liturgia Diária:
Dia 26/10/2025 - Domingo
Evangelho: Lucas 18,9-14
Disse também, para alguns que confiavam em si mesmos, considerando-se justos, e desprezavam os outros, esta parábola: “Dois homens subiram ao Templo para orar: um fariseu e o outro cobrador de impostos. O fariseu, de pé, orava consigo mesmo: ‘Ó Deus, dou-te graças porque não sou como os demais homens: ladrões, injustos, adúlteros; nem como este publicano. Jejuo duas vezes por semana, pago o dízimo de tudo o que possuo’. O publicano, porém, mantendo-se à distância, nem ousava levantar os olhos ao céu; batia no peito e dizia: ‘Ó Deus, tem piedade de mim, pecador’. Eu vos digo: este desceu para casa justificado, e não aquele. Pois todo o que se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado.”

Reflexão sobre o Evangelho:
Jesus mira “alguns que confiavam em si mesmos” e narra duas orações. No sentido literal, o fariseu elenca práticas boas, mas as converte em medida de superioridade; reza “consigo mesmo”, fechado no próprio mérito. O publicano confessa a miséria e pede misericórdia. O veredito surpreende: desce justificado quem se reconhece necessitado, não quem se exibe impecável (CIC 2613).
Alegoricamente, os dois orantes figuram dois modos de estar diante de Deus: a religião do desempenho e a fé dos pobres. O Templo é lugar de encontro, não de comparação. A súplica do publicano ecoa a oração da Igreja: “Tende piedade”, que brota do coração quebrantado e acolhe o dom gratuito (CIC 2559; 2631). Assim Deus forma um povo humilde que se gloria no Senhor.
No sentido moral, a parábola educa para a verdade do coração. Vícios espirituais travestem-se de virtude: jejum, dízimo e pureza tornam-se palco quando buscamos distinção. O remédio é a humildade efetiva: examinar-se, acusar-se, suplicar. “O fariseu perdeu os méritos com o veneno do orgulho; o publicano, com a humilde confissão, apagou as culpas”, ensina Agostinho (Sermo 115). A justiça que salva é dom preveniente de Deus, que suscita cooperação, não vanglória (CIC 1996–1999).
No sentido anagógico, a máxima final projeta-se no juízo: quem hoje se exalta será humilhado, quem se humilha será exaltado. A liturgia antecipa esse desfecho, quando reconhecemos nossa culpa e recebemos perdão. A Igreja aprende a aproximar-se “à distância”, com o peito batido, e sai sustentada pela graça que justifica.
Assim, a parábola corrige duas ilusões: que podemos comprar Deus com performances, e que nossos pecados impedem sua misericórdia. Ele resiste aos soberbos, mas se inclina aos abatidos. A verdadeira ação de graças não é a autocomplacência comparativa; é reconhecer que tudo é dom e suplicar a vida nova. Peçamos a graça de preferir a última fila e a palavra breve do penitente. O Evangelho hoje nos chama a descer justificados: entrar no Templo com verdade, cessar a comparação, pedir misericórdia, acolher a exaltação que Deus prepara aos humildes.
Pensamentos para Reflexão Pessoal:
1. Onde minha oração escorrega para a comparação e a autopromoção?
2. Que práticas concretas de humildade (exame, confissão, reparação) posso retomar nesta semana?
3. Como minha comunidade pode favorecer espaços de oração simples, penitente e acolhedora dos pecadores?
Reflexão sobre as Leituras do Dia:
Primeira Leitura: Eclo 35,15b-17.20-22a
Salmo: Sl 33(34),2-3.17-18.19.23 (R. 7a.23a)
Segunda Leitura: 2Tm 4,6-8.16-18
Evangelho: Lc 18,9-14
O fio condutor é a certeza de que Deus escuta o pobre e coroa a fidelidade humilde. O Eclesiástico afirma que o clamor do oprimido atravessa as nuvens, e o Altíssimo não ignora a súplica do órfão e da viúva. O Salmo convida a bendizer: “Este pobre gritou e o Senhor o ouviu”, prometendo libertação aos contritos. Paulo, ao concluir a carreira, confessa ter combatido o bom combate e atribui tudo ao Senhor que o assistiu e o livrará: não vanglória, mas gratidão humilde. No Evangelho, a justificação desce sobre quem pede misericórdia, não sobre quem se exalta. Assim, a Palavra integra oração, humildade e esperança: Deus é justo defensor dos pequenos e exalta os que se humilham nele.
Mensagem Final:
Entra no Templo com verdade: sem comparações, sem máscaras, sem autodefesa. Bate no peito e pede: “Tem piedade de mim, pecador”. Agradece os dons, mas rejeita a vanglória. Retoma exame, confissão e reparação. Deus resiste aos soberbos e exalta os humildes, justificando quem se reconhece necessitado. Desce hoje para casa justificado: começa de novo na graça.
Referências: Catena Aurea (Lc 18,9–14). CIC 2559; 2613; 2631; 1996–1999. Agostinho (Sermo 115, De Pharisaeo et Publicano). São João Crisóstomo (Hom. de Publicano et Pharisaeo, passim).




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