Fé humilde que serve
- escritorhoa
- 5 de out.
- 3 min de leitura
Liturgia Diária:
Dia 05/10/2025 - Domingo
Evangelho: Lucas 17,5-10
Os apóstolos disseram ao Senhor: “Aumenta-nos a fé!” O Senhor respondeu: “Se tivésseis fé como um grão de mostarda, diríeis a esta amoreira: ‘Arranca-te e planta-te no mar’, e ela vos obedeceria. Qual de vós, tendo um servo a arar ou a guardar o rebanho, lhe dirá, quando ele volta do campo: ‘Vem depressa e põe-te à mesa’? Não dirá antes: ‘Prepara-me a ceia, cinge-te e serve-me enquanto eu como e bebo; depois tu comerás e beberás’? Acaso agradecerá ao servo porque fez o que lhe foi mandado? Assim também vós: quando tiverdes feito tudo o que vos foi ordenado, dizei: ‘Somos servos inúteis; fizemos o que devíamos fazer’.”

Reflexão:
A súplica dos apóstolos — “Aumenta-nos a fé!” — nasce do reconhecimento de que a missão supera forças humanas. Jesus responde indicando a eficácia da fé, mesmo mínima, e unindo-a à humildade do servo. No sentido literal, o Senhor mostra que a fé confia no poder de Deus, capaz de arrancar o impossível, mas recusa transformar o discípulo em protagonista vaidoso. A imagem do servo ensina que toda obra nasce da graça e se ordena à glória de Deus (cf. CIC 153; 1814).
No sentido alegórico, o Mestre é o verdadeiro Senhor da casa; nós, servos admitidos à intimidade do Reino, servimos à mesa da sua vontade. A amoreira, de raízes profundas, pode simbolizar pecados e estruturas endurecidas: a fé operante na caridade desloca obstáculos, porque une o crente a Cristo, em quem “tudo posso” (Agostinho, Sermo 126,5; cf. Enchiridion 8).
No sentido moral, Jesus cura a tentação sutil da autopromoção espiritual. Mesmo cumprindo todos os preceitos, permanece a confissão: “somos servos inúteis”, isto é, não reclamamos mérito próprio, pois Deus “precede com a sua graça” e coroará os seus dons (Tomás de Aquino, Catena Aurea in Lc 17,5-10; cf. CIC 2006-2011). A verdadeira maturidade cristã é servir sem exigir reconhecimento, como ensina São João Crisóstomo: quem serve por Deus não busca aplauso humano, mas conforma-se a Cristo Servo (Hom. sobre a humildade, passim).
No sentido anagógico, a mesa definitiva é o banquete escatológico. Servimos agora na obscuridade da fé, guardando o “depósito” até que o Senhor venha (cf. 2Tm 1,14). A recompensa última não é salário devido, mas dom do Pai. Por isso, a fé, ainda que pequena, suscita perseverança e alegria discreta: Deus vê no segredo e prepara a ceia eterna.
Assim, o Evangelho corrige dois extremos: o desânimo (“minha fé é pequena”) e a vanglória (“minha obra me justifica”). A oração humilde pede aumento da fé; a prática humilde serve sem cálculo. Imploramos a graça de reconhecer: tudo é de Deus, por Deus e para Deus — e nisto está a liberdade dos filhos e a paz dos servos fiéis.
Pensamentos para Reflexão Pessoal:
1. Onde preciso dizer hoje, com verdade, “Aumenta-me a fé”, aceitando que Deus conduza o impossível?
2. Em quais serviços da comunidade posso agir com mais discrição, sem buscar agradecimentos ou visibilidade?
3. Como posso guardar o “depósito” recebido no Batismo, renovando diariamente a oração e a caridade?
Reflexão sobre as Leituras do Dia:
Primeira Leitura: Hab 1,2-3.2,2-4
Salmo: Sl 94(95),1-2.6-7.8-9 (R. 8)
Segunda Leitura: 2Tm 1,6-8.13-14
Evangelho: Lc 17,5-10
A palavra unifica-se no chamado à fé perseverante que se expressa em humilde serviço. Habacuc clama diante da injustiça e recebe a promessa: “o justo viverá por sua fidelidade” — visão que amadurece no tempo de Deus, pedindo espera obediente, não ansiedade autossuficiente. O Salmo insiste: “Não endureçais o coração”, pois o coração duro é incapaz de confiar e, por isso, resiste ao “hoje” da voz divina. Paulo recorda a Timóteo que reavive o dom recebido, sem espírito de covardia: a fé é graça, mas exige corresponsabilidade — guardar o depósito “com a força do Espírito Santo” e sofrer pelo Evangelho. No Evangelho, a súplica dos apóstolos ecoa o anseio do profeta e encontra resposta na pedagogia de Jesus: a fé, ainda pequena, é poderosa porque se ancora em Deus; e se prova no serviço sem exigência de reconhecimento. Assim, a justiça que vem da fé (Hab), o coração dócil (Salmo), a coragem de custodiar a tradição apostólica (2Tm) e a humildade do servo (Lc) convergem: viver de fé é manter o olhar no Senhor, trabalhar no seu campo e entregar-lhe o fruto, certo de que, no tempo oportuno, Ele confirmará a sua promessa.
Mensagem Final:
Pede hoje: “Senhor, aumenta minha fé”. Depois, serve com alegria silenciosa, sabendo que tudo vem de Deus e a Ele retorna. Reaviva o dom recebido, guarda o depósito na força do Espírito, não endureças o coração diante das provações. A fé humilde remove obstáculos e sustenta o serviço perseverante, preparando-nos para o banquete eterno que o Pai oferece aos seus filhos.
Referências: Catena Aurea (Lc 17,5–10). CIC 153; 1814; 2006–2011. Agostinho (Sermo 126,5; Enchiridion 8). São João Crisóstomo (passim).




Comentários