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“Não Sejas Incrédulo, Mas Homem de Fé.” Uma Reflexão Sobre Jo 20, 27.

Atualizado: 23 de abr.



ARTIGO - NÃO SEJAS INCRÉDULO - JOÃO CAP 20 VER 27Caminho de Fé

INTRODUÇÃO

O Evangelho segundo São João, capítulo 20, versículo 27, nos apresenta um momento profundamente comovente entre o Cristo ressuscitado e o apóstolo Tomé. Após a ressurreição, Jesus aparece aos discípulos e dirige-se diretamente a Tomé, que anteriormente havia expressado dúvida sobre o retorno do Senhor. Essa passagem é carregada de significado, pois destaca o convite de Jesus à fé mesmo diante da dúvida humana. Neste texto, refletiremos sobre a profundidade do chamado de Cristo à fé viva e pessoal, explorando o contexto bíblico, a doutrina da Igreja e o testemunho dos santos.

Jesus ressuscitado permite que São Tomé toque Suas chagas, convidando-o à fé viva e pessoal.

Reflexão Sobre Jo 20, 27

A exortação de Jesus a São Tomé – "Não sejas incrédulo, mas homem de fé" (Jo 20, 27) – é uma frase carregada de profundidade teológica e espiritual. Esta declaração não é apenas um chamado à crença, mas uma convocação a uma transformação interior que transcende a simples aceitação intelectual da verdade.

Segundo Santo Tomás de Aquino, a fé é uma virtude teologal, pela qual o intelecto é movido pela vontade a assentir às verdades reveladas por Deus (cf. STh II-II, q. 4, a. 1). Esta movimentação é causada pela graça divina, e exige, ainda, o concurso da liberdade humana, ou seja, o ato do livre arbítrio (cf. STh I-II, q. 113, a. 3).

Jesus ressuscitado permite que São Tomé toque Suas chagas, convidando-o à fé viva e pessoal. A figura de Tomé, com sua dúvida inicial, representa a condição humana comum – uma busca sincera por certezas em meio à incerteza. No entanto, a transformação de Tomé, de cético a confessor de fé, mostra que a dúvida pode ser um caminho para uma fé mais robusta e autêntica. Em vez de rejeitar Tomé por sua incredulidade, Jesus o convida a uma experiência direta, permitindo que ele toque suas feridas.

Esse gesto é também compreendido, à luz da Suma Teológica, como um exemplo do modo como Deus age segundo a natureza do ser humano. Assim como Deus move cada ser segundo a sua própria natureza (cf. STh I-II, q. 113, a. 3), move também o homem à fé, considerando sua condição racional e sensível.

A declaração "Meu Senhor e meu Deus" (Jo 20, 28) é um dos pontos altos da confissão cristã. Como lembra Tomás de Aquino, crer é aderir ao conteúdo da fé, não só enquanto conhecido, mas enquanto revelado por Deus e acolhido pela graça (cf. STh II-II, q. 2, a. 1). Essa confissão brota de um encontro com o Ressuscitado, em que o toque e a visão tornam-se vias sensíveis da revelação divina.

No contexto contemporâneo, a exortação "Não sejas incrédulo, mas homem de fé" assume um significado especial. Vivemos em uma era marcada pelo ceticismo e pela busca incessante por provas empíricas. A mensagem de Jesus a Tomé nos desafia a equilibrar a busca por conhecimento com a abertura ao mistério da fé. Para Tomás, o ato de fé é sobrenatural, ainda que não contrário à razão; pelo contrário, é um aperfeiçoamento dela (cf. STh II-II, q. 1, a. 5).

A transformação de Tomé também ocorreu no contexto de uma comunidade de fé. Santo Tomás sublinha que a fé é comunicada e sustentada pela Igreja (cf. STh II-II, q. 1, a. 10). Os outros discípulos desempenharam um papel crucial ao testemunharem a ressurreição, preparando o terreno para a conversão de Tomé. Assim, a vida cristã autêntica é sempre eclesial.

Essa dimensão eclesial da fé se manifesta particularmente nos sacramentos. Como afirma Tomás na STh III, q. 73, a. 1, os sacramentos são sinais eficazes da graça instituídos por Cristo, e um meio pelo qual a fé é fortalecida. O batismo, por exemplo, exige um ato de fé como disposição para a recepção do sacramento (cf. STh III, q. 68, a. 8). A Eucaristia, memorial da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor, é um encontro real com Cristo Ressuscitado, que alimenta e aprofunda a fé da Igreja peregrina.

A Tradição Patrística reforça esse entendimento. Santo Agostinho escreve que “a fé é acreditar no que não se vê, e a recompensa da fé é ver aquilo em que se creu” (Sermo 43, 1). Orígenes, por sua vez, ensina que a dúvida pode ser ocasião de crescimento espiritual, ao dizer: “a fé que nunca é desafiada não pode ser chamada verdadeiramente provada” (Homiliae in Numeros). São Gregório Magno comenta o episódio de Tomé, afirmando que sua incredulidade serviu para confirmar a fé da Igreja, pois pelo toque de Tomé, a carne gloriosa de Cristo foi confirmada aos olhos de todos (Hom. 26 in Evangelia).

"Não sejas incrédulo, mas homem de fé" é uma chamada que ressoa através dos séculos. A história de São Tomé nos lembra que a fé não é a ausência de dúvida, mas a superação dela através do encontro com Cristo. É uma confiança que se desenvolve e se aprofunda na experiência pessoal e comunitária, convidando-nos a um relacionamento mais íntimo com o divino.


Pensamentos para Reflexão Pessoal:

  1. Como você lida com suas próprias dúvidas em relação à fé? Será que, como São Tomé, você pode encontrar em suas dúvidas um caminho para um relacionamento mais profundo com Deus?

  2. Em que momentos da sua vida você sentiu a presença tangível de Deus, mesmo sem evidências visíveis? Como essas experiências fortaleceram sua fé?

  3. De que maneiras você pode apoiar a comunidade de fé ao seu redor, ajudando os outros a transformar suas dúvidas em confiança, assim como os discípulos fizeram com São Tomé?


ORAÇÃO DE ENCERRAMENTO

Amado Senhor, agradecemos pela sabedoria e inspiração proporcionadas através da reflexão sobre São Tomé e sua jornada de dúvida para a fé. Que possamos, assim como ele, abrir nossos corações ao Teu toque e reconhecer-Te como nosso Senhor e nosso Deus. Concede-nos a graça de confiar em Ti mesmo quando não podemos ver, e de sermos testemunhas fiéis do Teu amor e da Tua ressurreição. Fortalece nossa fé, individualmente e em comunidade, para podermos caminhar juntos no Teu caminho de luz e verdade. Em nome de Jesus Cristo, nosso Salvador. Amém.

1 comentário


Hálisson Andrade
Hálisson Andrade
02 de jul. de 2024

Senhor Jesus, assim como falaste com Tomé, falas conosco hoje. Ajuda-nos a reconhecer nossas próprias dúvidas e a buscar uma fé mais profunda em Ti. Que possamos responder ao Teu convite para sermos pessoas de fé.

Editado
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