O fogo que purifica e divide
- escritorhoa
- há 12 minutos
- 3 min de leitura
Liturgia Diária:
Dia 23/10/2025 - Quinta-feira
Evangelho: Lucas 12,49-53
“Eu vim lançar fogo sobre a terra, e como gostaria que já estivesse aceso! Tenho de receber um batismo, e como me angustio até que se cumpra! Pensais que vim trazer paz à terra? Não, eu vos digo, mas divisão. Pois, daqui em diante, estarão cinco numa casa divididos: três contra dois e dois contra três; estarão divididos: o pai contra o filho e o filho contra o pai; a mãe contra a filha e a filha contra a mãe; a sogra contra a nora e a nora contra a sogra.”

Reflexão:
O Evangelho de hoje revela o ardor do coração de Cristo. O “fogo” que Ele veio trazer é o Espírito Santo (cf. At 2,3), fogo de amor, purificação e juízo. No sentido literal, Jesus expressa o desejo de ver consumada sua missão: o batismo que Ele deve receber é a cruz, onde o amor divino se manifesta até o extremo. Alegoricamente, esse fogo é a caridade derramada em nossos corações (Rm 5,5), que ilumina e queima, revelando o que é ouro e o que é palha. No sentido moral, indica a exigência da conversão: quem acolhe Cristo deve permitir que o fogo do Evangelho purifique intenções, apegos e complacências. No anagógico, aponta para a purificação final, quando Deus será tudo em todos (1Cor 15,28).
Santo Agostinho comenta que “este fogo é a caridade, que arde sem consumir, mas transforma tudo o que toca” (Enarr. in Ps. 38). São Gregório Magno explica que a divisão mencionada por Jesus não é fruto de ódio, mas de discernimento entre a luz e as trevas (Hom. in Ev. 20). Cristo não traz paz falsa, mas a espada da verdade que corta as alianças do pecado. Por isso, o encontro com o Evangelho frequentemente provoca conflito: o coração dividido deve escolher entre o mundo e Deus.
O Catecismo ensina que o Espírito Santo age como fogo, purificando o coração (CIC 696), e que a conversão é obra contínua de graça e liberdade (CIC 1428). O “batismo” de Jesus é o mistério pascal, no qual Ele se submerge na morte para comunicar-nos vida nova (CIC 1225). Assim, o fogo da cruz é fonte do Espírito e início de uma nova criação. O discípulo que aceita esse fogo torna-se sinal de contradição, como o Mestre.
Na vida cotidiana, esse fogo se acende na oração sincera, na Palavra meditada, na caridade concreta e no sofrimento aceito com fé. O cristão fiel arde de amor, mas não destrói; corrige com mansidão, purifica sem julgar. Quando a fidelidade ao Evangelho causa divisão, é o fogo de Cristo separando o verdadeiro do aparente. O mundo teme esse fogo, mas quem ama o Senhor deseja ser consumido por Ele, até que nada reste senão amor.
Pensamentos para Reflexão Pessoal:
1. Permito que o fogo do Espírito Santo purifique minhas intenções e escolhas diárias?
2. Tenho coragem de sustentar a verdade do Evangelho mesmo quando isso me traz oposição ou rejeição?
3. Que áreas da minha vida precisam ser incendiadas pelo amor purificador de Cristo?
Mensagem Final:
Cristo acende na terra o fogo do Espírito, que ilumina e purifica. Esse fogo consome o pecado e faz nascer o amor. Ser cristão é aceitar arder sem se destruir, amar sem medida, escolher a verdade mesmo quando custa. Onde há fé viva, há fogo divino: chama que aquece, guia e transforma o coração em altar de Deus.




Comentários