Pureza que nasce do coração misericordioso
- escritorhoa
- 14 de out.
- 3 min de leitura
Liturgia Diária:
Dia 14/10/2025 - Terça-feira
Evangelho: Lucas 11,37-41
Enquanto falava, um fariseu convidou Jesus para comer com ele. Entrou, pois, e pôs-se à mesa. O fariseu admirou-se ao ver que ele não se lavou antes da refeição. O Senhor, porém, disse-lhe: “Vós, fariseus, limpais o exterior do copo e do prato, mas o vosso interior está cheio de rapina e maldade. Insensatos! Aquele que fez o exterior não fez também o interior? Antes, dai esmola do que está dentro, e tudo vos será puro”.

Reflexão:
O Evangelho mostra Jesus acolhendo o convite de um fariseu e, sem cumprir a ablução ritual, revelar o critério divino da pureza. No sentido literal, não é a higiene externa que santifica, mas o coração convertido. Deus, que fez exterior e interior, pede verdade no íntimo e obras que procedem da caridade. A chave é a partilha: “dai esmola do que está dentro”. O que sai do coração — misericórdia — purifica o todo.
Alegoricamente, a casa do fariseu figura Israel (e a Igreja) visitado pelo Noivo. O copo e o prato aludem ao culto e à vida; Cristo quer vasos repletos de misericórdia, não apenas polidos por fora. Moralmente, o texto denuncia a dupla vida: aparência devota com interior cobiçoso. Purificar “por dentro” implica exame, arrependimento, reconciliação e restituição. A esmola não compra Deus; manifesta conversão efetiva e reparadora (cf. CIC 2447; 1435). Anagogicamente, a pureza do coração antecipa a visão de Deus prometida aos limpos (cf. Mt 5,8), nos preparando para o Banquete eterno.
Santo Agostinho alerta contra a “religião do verniz”: quem se louva por fora e rouba por dentro permanece impuro (Enarr. in Ps. 50). São Gregório Magno adverte que as obras, sem caridade, brilham e não aquecem; Deus pesa intenções (Moralia 21,2). São Tomás ensina que a caridade é forma de todas as virtudes; por ela, as demais são purificadas e ordenadas ao fim último (STh II-II, q.23, a.8). O Catecismo lembra que a conversão interior exige gestos cotidianos de penitência, esmola, oração e jejum (cf. CIC 1434-1435).
Aplicação concreta: antes da mesa, olhar o coração. Há rapina na forma de injustiças, dureza de juízo, omissões? Começar pela restituição: reparar débitos, pedir perdão, mudar práticas comerciais, reconciliar relações. Estabelecer um ritmo de esmola discreta e fiel; reservar tempo semanal para a Confissão; cultivar simplicidade contra o consumismo; educar o olhar para reconhecer Cristo nos pobres. No culto, unir beleza externa à retidão interior: participar da Eucaristia com fé operante, evitando ativismos que encobrem vaidades.
Peçamos a Maria, toda pura, um coração transparente, e a graça de amar com verdade. Que o Espírito nos torne vasos limpos, onde a caridade circule como vinho bom. Então o copo e o prato — vida e culto — resplandecerão por dentro e por fora, e nossa mesa cotidiana prefigurará a ceia do Reino, onde Deus será tudo em todos.
Pensamentos para Reflexão Pessoal:
1. Que “vernizes” mantenho que encobrem a necessidade de conversão concreta?
2. Que restituição ou gesto de caridade posso realizar hoje, em segredo, por amor a Deus?
3. Como unir beleza litúrgica e pureza de intenção no meu serviço e oração?
Mensagem Final:
Jesus aponta a raiz: pureza nasce do coração convertido que reparte. Deixe cair vernizes, confesse-se, repare injustiças, pratique a esmola discreta. Busque simplicidade, verdade e caridade. No culto e na vida, limpe por dentro e por fora. Com Maria, peça um coração transparente. O Espírito formará em você um vaso para o amor, antecipando o Banquete eterno.




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