Glória e cruz: ouvir o anúncio e seguir com amor
- escritorhoa
- 27 de set.
- 3 min de leitura
Liturgia Diária:
Dia 27/09/2025 - sábado
São Vicente de Paulo, presbítero, Memória
Evangelho: Lucas 9,43b–45
Tradução própria
Enquanto todos se admiravam de tudo o que Ele fazia, Jesus disse aos seus discípulos:
“Colocai vós estas palavras nos ouvidos: o Filho do Homem será entregue nas mãos dos homens”.
Eles, porém, não compreendiam essa palavra; ela lhes estava encoberta para que não a entendessem, e temiam interrogá-lo sobre essa palavra.

Reflexão:
Enquanto a multidão se admira das obras, Jesus volta-se aos discípulos e ordena: “colocai nos ouvidos” o anúncio da Paixão. No sentido literal, Lucas justapõe sucesso e cruz para corrigir falsas expectativas messiânicas: o Filho do Homem será entregue, e o caminho do discípulo passará pela mesma lógica. O medo impede as perguntas; o véu do mistério aguarda a luz pascal. A fé amadurece quando a glória é interpretada desde a cruz (CIC 572).
No sentido alegórico, Cristo é o Servo que assume livremente a entrega e transforma a violência em dom. A “entrega” não é derrota casual, mas obediência amorosa: Ele se entrega ao Pai e aos homens para nos resgatar. Os Padres, recolhidos na Catena Aurea, veem aqui a pedagogia do Senhor: primeiro revela a cruz, depois manifesta a glória, para que ninguém se escandalize do plano divino (Catena Aurea, Lc 9,43–45).
No sentido moral, o texto educa nosso seguimento. Buscamos consolação, mas tememos a renúncia; admiramos sinais, mas evitamos perder. Jesus manda “guardar nos ouvidos”: prática diária de memória da Paixão, que modela escolhas concretas. Unimos pequenas cruzes à sua oferenda, acolhendo humilhações e contradições sem amargura. A caridade, forma das virtudes, dá sentido à renúncia (CIC 1827) e se torna serviço aos pobres, onde tocamos as chagas de Cristo (CIC 2447).
Celebrando São Vicente de Paulo, aprendemos que contemplar o Crucificado conduz ao amor eficaz: organizar, visitar, ouvir, sustentar, formar. Ele ensinou que os pobres são nossos senhores e mestres; a compaixão torna-se método eclesial, sem perder o primado da oração e da Eucaristia. Assim, a cruz acolhida gera criatividade missionária, paciência diante de incompreensões e fidelidade nos trabalhos simples, onde Deus opera silenciosamente e com fruto duradouro.
No sentido anagógico, a Paixão prepara a Ressurreição: a palavra “entregue” deságua no “ressuscitou ao terceiro dia”. Guardar hoje o anúncio abre-nos à esperança que não decepciona e orienta a caminhada para a visão de Deus. Maria, aos pés da cruz, ajuda-nos a escutar sem medo e a permanecer quando o sentido parece oculto. Com ela e com São Vicente, acolhamos a palavra dura, deixemos que a caridade a traduza em gestos, e sigamos Jesus com coração manso, perseverante e pobre, até que a glória ilumine plenamente nossas obras e lágrimas.
Pensamentos para Reflexão Pessoal:
1. Que medo me impede de “perguntar ao Senhor” e acolher a cruz com fé?
2. Qual gesto concreto de caridade, à maneira de São Vicente, expressará hoje minha adesão a Cristo?
3. Como posso recordar diariamente a Paixão para interpretar alegrias e perdas segundo o Evangelho?
Mensagem Final:
Quando a admiração cresce, Jesus anuncia a cruz. Guarde essa palavra: Ele se entrega por amor. Una suas pequenas cruzes à Eucaristia, sirva os pobres com humildade e persevere. Com Maria e São Vicente de Paulo, escute, confie e transforme dor em caridade concreta. Assim, a glória que esperamos ilumina já hoje escolhas, afetos e serviços para a salvação de muitos.
Referências: Catena Aurea (Lc 9,43–45). CIC 572; 1827; 2447.
Leitura Complementar:
Para se aprofundar na vida de São Vicente de Paulo, leia nosso artigo: São Vicente de Paulo: O Gênio da Caridade e Pai dos Pobres




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