Hoje se cumpre a graça do Ungido
- escritorhoa
- 1 de set.
- 3 min de leitura
Atualizado: 6 de set.
Liturgia Diária:
Dia 01/09/2025 - segunda-feira
Evangelho: Lucas 4,16–30
Tradução própria
Veio a Nazaré, onde fora criado; no sábado, segundo seu costume, entrou na sinagoga e levantou-se para fazer a leitura. Foi-lhe entregue o livro do profeta Isaías; abrindo-o, encontrou o lugar onde estava escrito:
“O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar liberdade aos cativos e recuperação da vista aos cegos, para libertar os oprimidos, para proclamar o ano da graça do Senhor.”
Depois fechou o livro, entregou-o ao servente e sentou-se; e os olhos de todos na sinagoga estavam fixos nele. Então começou a dizer-lhes: “Hoje se cumpriu esta Escritura em vossos ouvidos”.
Todos lhe davam testemunho e admiravam-se das palavras de graça que saíam de sua boca, e diziam: “Não é este o filho de José?” Ele lhes disse: “Sem dúvida me direis este provérbio: Médico, cura-te a ti mesmo. Tudo o que ouvimos dizer que se fez em Cafarnaum, faze-o também aqui, na tua terra”. E acrescentou: “Em verdade vos digo: nenhum profeta é bem acolhido na sua pátria. Em verdade vos digo: havia muitas viúvas em Israel nos dias de Elias, quando o céu ficou fechado por três anos e seis meses e houve grande fome em toda a terra; a nenhuma delas foi enviado Elias, senão a uma viúva em Sarepta de Sidônia. E havia muitos leprosos em Israel no tempo do profeta Eliseu; nenhum deles foi purificado, senão Naamã, o sírio”.
Ao ouvirem isso, todos na sinagoga se encheram de ira; levantaram-se, expulsaram-no da cidade e o conduziram até o cimo do monte sobre o qual estava edificada a cidade, para o precipitarem. Ele, porém, passando pelo meio deles, seguiu seu caminho.

Reflexão:
Hoje Jesus regressa à sua aldeia, entra na sinagoga e proclama Isaías: nele, o Espírito unge, envia e liberta. No sentido literal, Lucas mostra o início do ministério público na Galileia: o Messias se apresenta com a autoridade do Ungido e reivindica que a Escritura “cumpre-se hoje” (Lc 4,21). A graça oferecida, porém, encontra resistência: a familiaridade com Jesus torna-se obstáculo, e a menção de Elias e Eliseu denuncia a incredulidade que fecha o coração (vv. 24–27). São Tomás, recolhendo os Padres, vê aqui a pedagogia divina que desloca os dons quando se rejeita o profeta (Catena Aurea, Lc 4,16–30).
No sentido alegórico, o “ano da graça” prefigura a economia nova inaugurada por Cristo, em que a remissão não é só social mas sacramental: Ele cura a cegueira da mente e liberta do cativeiro do pecado. O Catecismo lembra que Cristo, Sacerdote, Profeta e Rei, comunica à Igreja sua unção para evangelizar e servir (CIC 783–786); e que a missão nasce do amor trinitário, destinada a todos, sem exclusões (CIC 849–851). Por isso, a referência a pagãos acolhidos – a viúva de Sarepta e Naamã – antecipa a universalidade do Evangelho.
No sentido moral, Jesus nos corrige do provincianismo espiritual: “Médico, cura-te a ti mesmo” é a tentação de exigir sinais para crer, recusando a conversão. A fé verdadeira acolhe a Palavra com obediência, ainda quando ela frustra expectativas. A oração sustenta esse acolhimento: em Lucas, cada passo de Jesus brota da união com o Pai (CIC 2600–2603). Também devemos discernir e acolher profetas que Deus levanta hoje, sem desprezá-los por proximidade, idade ou pobreza.
No sentido anagógico, “passando pelo meio deles, seguiu seu caminho” indica que nada impede o desígnio pascal: a Palavra caminha até Jerusalém e até a glória, e com ela a Igreja. A peregrinação da Palavra inaugura um tempo favorável que se renova em cada “hoje” da Igreja, na Eucaristia, onde Cristo nos alcança, reconcilia e envia em missão. Assim, o “hoje” da graça ressoa na liturgia e na caridade concreta: proclamar, curar, libertar.
Contemplemos Maria, primeira ouvinte, cuja fé abriu espaço para o Ungido; aprendamos dela a guardar e meditar a Palavra. Voltemos também ao sacramento da Reconciliação, onde o ano favorável se faz presente para nós. E peçamos o Espírito, para anunciar com obras de misericórdia: aos pobres, esperança; aos cativos, libertação; aos cegos, luz.
E que nossos lares tornem-se pequenas sinagogas missionárias hoje.
Pensamentos para Reflexão Pessoal:
1. De que familiaridades, preconceitos ou comodismos preciso converter-me para acolher o “hoje” de Deus?
2. Que obra concreta de misericórdia posso realizar esta semana para levar libertação e esperança a alguém?
3. Como posso cultivar uma escuta orante da Palavra que una fé e vida, decisão e caridade?
Mensagem Final:
Em Nazaré, Jesus proclama o “hoje” da graça: o Espírito unge, envia e liberta. Somos Igreja participante de sua missão: evangelizar os pobres, curar feridas, abrir os olhos à fé, acolher sem fronteiras. Sem exigir sinais, acolhamos a Palavra e caminhemos com Cristo, que passa e prossegue, cumprindo o desígnio do Pai. Na oração, coragem, misericórdia, testemunho e serviço diário.
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