Ler os sinais, reconciliar no caminho

Liturgia Diária:

Dia 24/10/2025 - Sexta-feira

Evangelho: Lucas 12,54-59

“Dizia também às multidões: Quando vedes subir uma nuvem do poente, logo dizeis: ‘Vem chuva’, e assim acontece; e quando sentis soprar o vento sul, dizeis: ‘Vai fazer calor’, e acontece. Hipócritas! Sabeis interpretar a aparência da terra e do céu; como não sabeis discernir este tempo presente? E por que não julgais por vós mesmos o que é justo? Quando fores com o teu adversário ao magistrado, procura resolver o caso com ele no caminho, para não acontecer que te conduza ao juiz, o juiz te entregue ao guarda, e o guarda te meta na prisão. Eu te digo: não sairás dali enquanto não pagares o último centavo.”

Reflexão:

Ao dirigir-se às multidões, Jesus denuncia a incoerência de quem sabe ler o céu e o vento, mas ignora os sinais de Deus. Literalmente, Ele chama ao discernimento do “tempo presente”: a sua presença, palavras e obras são o grande Sinal que exige resposta. Alegoricamente, a nuvem e o vento figuram as moções do Espírito e as vicissitudes da história, nas quais o Pai nos fala. Moralmente, o chamado é a julgar “por nós mesmos o que é justo”, iluminando a consciência com a verdade do Evangelho, para agir prontamente. Anagogicamente, a cena do adversário e do juiz aponta para o Juízo: reconciliar-se “no caminho” é converter-se antes que a noite chegue.

Santo Agostinho ensina que o tempo presente é o lugar do “hoje” de Deus, onde a graça bate à porta (Serm. 88). São Gregório Magno observa que quem adia a penitência “brinca com a misericórdia” e arrisca-se à justiça (Hom. in Ev. 34). E São Tomás recorda que a consciência deve ser reta e bem formada, capaz de aplicar os princípios ao caso concreto (STh I-II, q.19, a.5). O Catecismo confirma: é preciso formar a consciência, buscando o bem verdadeiro e escolhendo-o (CIC 1783-1786), e reconciliar-se sem demora com Deus e com o próximo (CIC 1445, 1469).

A parábola do acordo a caminho do magistrado é concreta: quem quebra a comunhão deve apressar-se a reparar, porque a dívida moral gera cadeia interior e consequências externas. O último “centavo” evoca a justiça vindoura, onde todo amor omitido pedirá satisfação. A reconciliação não é cálculo, mas amor que restaura a ordem e devolve a paz. O Espírito concede luz para ler os sinais; a decisão, porém, é nossa.

Como viver? Examinar os “céus” da própria vida, observando fatos, sofrimentos e consolações que indicam os apelos de Deus, Julgar com retidão, pedir conselho, agir sem protelar. Buscar a penitência sacramental, reconciliar relações feridas, reparar o dano, perdoar de coração. Na liturgia e na Eucaristia, aprendemos a medir o tempo com a medida da eternidade. Assim, o “tempo presente” torna-se ocasião de graça, e o caminho até o Juiz transforma-se em caminho com Ele.

Hoje, decidamos um passo concreto: pedir perdão, restituir o que falta, retomar a oração diária, reconciliar um vínculo rompido e escutar a Palavra com obediência. Quem lê os sinais e age na caridade encontra já, no caminho, a liberdade dos filhos e a paz do Senhor, aqui e agora.

Pensamentos para Reflexão Pessoal:

1. Quais sinais de Deus tenho percebido ultimamente e como estou respondendo a eles concretamente?

2. Com quem preciso reconciliar-me “no caminho”, antes que pequenas dívidas se tornem prisões do coração?

3. Como posso formar melhor minha consciência para julgar o que é justo nas decisões diárias?

Mensagem Final:

Discernir o tempo presente é acolher Cristo agora. Leia os sinais, forme a consciência, reconcilie-se sem demora. Dê passos concretos: confissão, reparação, oração fiel, caridade. No caminho, escolha o acordo da paz antes do juízo. Quem age hoje encontra liberdade interior e caminha com o Senhor até a plenitude. Sem protelar, ame, perdoe e sirva: aí brilha a justiça misericordiosa.