Riqueza diante de Deus
- escritorhoa
- há 4 dias
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Liturgia Diária:
Dia 20/10/2025 - Segunda-feira
Evangelho: Lucas 12,13-21
Alguém da multidão disse a Jesus: “Mestre, dize ao meu irmão que reparta comigo a herança”. Ele respondeu: “Homem, quem me constituiu juiz ou partidor entre vós?”. E disse-lhes: “Vede e guardai-vos de toda cobiça, porque a vida de alguém não consiste na abundância de bens”. Contou-lhes então uma parábola: “A terra de um homem rico produziu grande colheita. Ele pensava consigo: ‘Que farei? Não tenho onde guardar a minha colheita’. E disse: ‘Farei isto: derrubarei meus celeiros e construirei maiores; neles recolherei todo o meu trigo e os meus bens. E direi à minha alma: Minha alma, tens muitos bens em depósito para muitos anos; descansa, come, bebe, regala-te’. Mas Deus lhe disse: ‘Insensato! Nesta noite te reclamarão a vida; e o que preparaste, para quem será?’. Assim acontece com quem ajunta tesouros para si e não se torna rico para com Deus”.

Reflexão:
O Evangelho apresenta um pedido de partilha que Jesus recusa julgar, pois quer ir à raiz: a cobiça. No sentido literal, a parábola revela o engano do rico, que fala apenas consigo e planeja celeiros maiores, como se o tempo lhe pertencesse. A sentença divina interrompe o solilóquio: “Insensato!”. A vida não se garante por depósitos; a verdadeira segurança não cabe em armazéns, mas em ser rico para com Deus.
Alegoricamente, os celeiros maiores figuram o coração dilatado pela graça, onde Deus deseja armazenar caridade para partilha; Cristo é o Tesouro escondido que sacia e não defrauda. Moralmente, o texto educa o uso dos bens: trabalho, poupança e planejamento são legítimos, porém subordinados ao amor; a cobiça transforma meios em fim e escraviza a alma (cf. CIC 2429; 2536). Anagogicamente, a noite que chega recorda o juízo: o tempo é dom para amar; perder-se na autossuficiência é chegar vazio à eternidade (cf. CIC 1021-1022).
Santo Agostinho comenta que o rico pensou nos anos, não no Deus dos anos; contava celeiros, não os pobres de Cristo (Serm. 36,7). São João Crisóstomo exorta: “Não chames teus os bens, mas administras como servo” (Hom. in Matth. 50). São Tomás ensina que a avareza contraria a liberalidade e rouba à caridade sua expansão, porque fixa o coração no perecível (STh II-II, q.118, a.1).
À luz do Evangelho, convém discernir possessividades disfarçadas de prudência. Planejar permanece bom; o acúmulo por medo revela cativeiro. Um estilo sóbrio e a partilha estável amadurecem a liberdade; o dízimo e um tempo oferecido aos pobres educam o coração; justiça em contratos e salários testemunha o Reino. A linguagem interior pode migrar do “meu” ao “nosso”; do “descansa, come, bebe” ao “servir, repartir, agradecer”. No plano comunitário, transparência econômica, caridade organizada, atenção aos frágeis e educação financeira de inspiração evangélica ajudam o discernimento.
A sabedoria cristã não demoniza bens, mas ordena-os. A Eucaristia é antídoto da cobiça: nela, recebemos o Pão que não se guarda, mas se reparte; aprendemos que viver é comunhão, não estoque. A Confissão quebra o laço sutil da segurança ilusória. Peçamos à Virgem Maria, pobre de espírito, um coração rico de fé; e ao Espírito Santo, inspiração para transformar bens em serviço, reservas em providência para muitos, celeiros em mesas abertas. Se hoje ouvirmos a voz do Senhor, cuidemos de ser ricos para com Deus, enquanto ainda é dia, para que a noite nos encontre cheios de amor.
Pensamentos para Reflexão Pessoal:
1. Onde o medo disfarça cobiça e me faz construir “celeiros maiores”?
2. Que passo concreto de partilha e justiça posso realizar ainda hoje?
3. Como a Eucaristia pode curar minha ânsia de segurança e abrir-me à comunhão?
Mensagem Final:
Jesus desmascara a ilusão do acúmulo: vida não é estoque, mas comunhão. Planeje com sobriedade e generosidade. Reparta tempo, recursos e cuidado; pratique justiça; busque a Eucaristia e a Confissão. Converta o “meu” em “nosso” e celeiros em mesas abertas. Hoje, escolha um gesto concreto de partilha. Rico para com Deus, você dormirá livre, confiante na Providência que não falha.




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