Árvores, corações e alicerces: ouvir e praticar
- escritorhoa
- há 2 dias
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Liturgia Diária:
Dia 13/09/2025 - sábado
Evangelho: Lucas 6,43–49
Tradução própria
“Não há árvore boa que dê mau fruto, nem árvore má que dê bom fruto; pois cada árvore se reconhece pelo seu fruto. Não se colhem figos dos espinhos, nem se vindimam uvas dos abrolhos. O homem bom, do bom tesouro do coração, tira o bem; e o mau, do mau, tira o mal; porque a boca fala do que transborda o coração.
Por que me chamais: ‘Senhor, Senhor’, e não fazeis o que digo? Todo aquele que vem a mim, ouve minhas palavras e as pratica é semelhante a um homem que, ao construir uma casa, cavou, aprofundou e pôs o fundamento sobre a rocha. Tendo vindo uma enchente, o rio arremeteu contra aquela casa, e não a pôde abalar, porque estava bem construída. Mas o que ouve e não pratica é semelhante a um homem que construiu uma casa sobre a terra, sem fundamento; o rio arremeteu, e logo ela caiu, e foi grande a ruína dessa casa.”

Reflexão:
Jesus ensina com imagens simples e decisivas: árvore e fruto, coração e boca, casa sobre rocha e casa sem alicerce. No sentido literal, Lucas conclui o Discurso mostrando que a audição da Palavra se prova na prática: “Por que me chamais ‘Senhor, Senhor’ e não fazeis o que eu digo?”. O julgamento do fruto desmascara aparências; a tempestade revela os fundamentos.
No sentido alegórico, Cristo é a Árvore boa cuja seiva é o Espírito; seus frutos são os santos e as obras de misericórdia. O “tesouro do coração” aponta para a graça que o Senhor deposita em nós; quem permanece n’Ele pode dar fruto que permanece. O Catecismo recorda: a caridade é forma de todas as virtudes e critério da vida nova (CIC 1827–1829).
No sentido moral, o Senhor nos chama à coerência: boca e obra alinhadas, intenção e gesto reconciliados. Examinar o próprio “depósito” significa vigiar pensamentos, afetos, hábitos; confessar o mal, cultivar o bem. Quem escuta e pratica cava fundo: oração diária, Eucaristia dominical, Confissão frequente, caridade concreta, sobriedade. Assim, quando vier a chuva, a casa permanece, porque está apoiada no Cristo.
No sentido anagógico, a casa sólida antecipa a comunhão eterna com Deus. A tempestade evoca provações, morte e juízo; quem constrói sobre a rocha participa da paz do Reino. Agostinho lê a rocha como Cristo, e a areia, inconstância das paixões (Agostinho, Serm. 26); Tomás sublinha: a prudência ordena meios ao fim último, que é Deus (Tomás, Catena Aurea).
Concretamente, escolhamos um método simples: meditar o Evangelho, anotar propósitos, pedir auxílio e executar com perseverança. Se a língua tropeça, cale e recomece; se o coração pesa, apresente-o ao Senhor; se o hábito distrai, ponha limites. Maria, casa de ouro, guardou a Palavra e deu Cristo ao mundo. Com ela, construamos hoje, decididamente, sobre a rocha firme: ouvir e praticar.
Além disso, a distinção entre árvore e fruto protege contra o moralismo e contra o autoengano. Não se trata de multiplicar ações externas, mas de deixar o Espírito transformar raízes, isto é, o coração. A lectio divina, a direção espiritual e a amizade fraterna ajudam a purificar motivações e a sustentar escolhas. Onde há raiz boa, haverá, no tempo oportuno, fruto verdadeiro.
Finalmente, edificar com Jesus exige tempo, paciência e obediência. Nem sempre veremos resultados imediatos, porém o fundamento cresce no escondimento. Persevere no pouco, confie na Palavra, e casa atravessará ventos e noites.
Pensamentos para Reflexão Pessoal:
1. Que frutos minhas palavras e atitudes têm revelado sobre o meu coração?
2. Quais práticas concretas me ajudam a “cavar fundo” e firmar a vida em Cristo?
3. Onde preciso buscar reconciliação para reconstruir alicerces com humildade e perseverança?
Mensagem Final:
Jesus nos convida a construir sobre a rocha: ouvir e praticar. Cuidemos do coração, fonte dos frutos, e alinhemos palavra e gesto. Com oração, Eucaristia e caridade, cavemos fundo, firmando o alicerce em Cristo. Perseveremos no pouco; virão ventos, e a casa permanecerá. Maria nos acompanhe, ajudando-nos a frutificar na vida diária, para glória de Deus e salvação de muitos.
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